Rui Ferreira

Cátedra UNESCO da UE/IEAC-GO

Conferência

Do Pópulo ao Bom Jesus do Monte: recriar Jerusalém na cidade de Braga

 Nasceu em Braga em 1984. Frequentou a Escola de Engenharia da Universidade do Minho, tendo-se licenciado em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa no ano de 2009. Em 2013 obteve o grau de Mestre em Património e Turismo Cultural na Universidade do Minho, com a dissertação “Festas de S. João em Braga: raízes, história e potencial turístico”. Em 2019 concluiu o doutoramento em Estudos Culturais na Universidade do Minho, tendo como tese “Os cerimoniais público(-privados) e as solenidades da Semana Santa de Braga”. Pertenceu à Companhia de Jesus entre 2004 e 2011. Nesse período colaborou com o Centro Académico de Braga, Apostolado da Oração e foi docente no Colégio de S. João de Brito. Entre 2011 e 2013 trabalhou com o Gabinete do Arcebispo Primaz e, entre 2013 e 2021, desempenhou funções como assessor do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Braga. Tem-se dedicado, desde 2002, aos Estudos sobre Braga, através da publicação de artigos e comunicações. Foi autor do blogue de cidadania Braga Maior e fundador e presidente da associação Braga Mais. Entre 2013 e 2019 assumiu a presidência da Associação de Festas de São João, responsável pela realização das festas da cidade de Braga. Foi responsável pelo comissariado de várias exposições, sendo autor dos livros “O São João é de Braga” (2014), “São João da Ponte: o pitoresco lugar da cidade de Braga” (2016), “Procissão da Burrinha” (2017), “O Santuário do Bom Jesus do Monte” (2017), “A Semana Santa em Braga” (2021), “Trilhos Bragueses” (2021) e “A Devoção de Nossa Senhora das Dores na Basílica dos Congregados” (2022). É autor da proposta da Semana Santa de Braga ao Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. Em 2021 fundou o Ponto Braguez, no qual se dedica a divulgar o Património e a História de Braga.

Resumo da Conferência

A Via Crucis, também designada de Via Sacra, é uma das mais populares expressões da vivência da crucificação e morte de Jesus Cristo. Trata-se de uma oração de contemplação que convida os fiéis cristãos a reconstituírem o caminho de Jesus Cristo desde o Pretório até ao Calvário. Fundada inicialmente como exercício piedoso dos peregrinos que visitavam Jerusalém, terá almejado popularidade como proposta de recriação, dado que permitia percorrer Jerusalém sem efetivamente lá estar. Acabou por se arreigar no quotidiano dos cristãos a partir do século XII e permitir a construção de um imaginário da Paixão de Cristo. A cidade de Braga afirma-se como espaço preferencial da implantação deste imaginário, partindo particularmente da ereção de “Jerusaléns”, vias-sacras monumentalizadas, cujo objetivo era recriar o caminho de Jesus Cristo entre o Pretório e o Calvário. No final do século XVI, o arcebispo D. Frei Agostinho de Jesus plantou na cerca do colégio agostiniano do Pópulo, um exemplar importado diretamente da Alemanha Superior, que poderá ser a mais antiga Via Crucis monumentalizada erigida em Portugal. Por conseguinte, pode também servir como leitura para se entender o surgimento de outros lugares da Paixão no cenário bracarense, de que é paradigma fundamental o santuário do Bom Jesus do Monte. Porém, a construção deste imaginário não se revela apenas na vertente material, mas também se foi expressando na dimensão intangível, nomeadamente as solenidades da Semana Santa.

 

 

.Abstract

 

The “Via Crucis”, also known as the Way of the Cross, is one of the most popular expressions of the crucifixion and death of Jesus Christ. It is a prayer of contemplation that invites the Christian faithful to retrace the path of Jesus Christ from the Praetorium to Calvary. Initially founded as a pious exercise for pilgrims visiting Jerusalem, it may have sought popularity as a proposal for recreation, since it allowed people to walk through Jerusalem without actually being there. It ended up becoming part of the daily life of Christians from the 12th century onwards and allowed for the construction of an imaginary of the Passion of Christ. The city of Braga established itself as the preferred location for this imagery, starting in particular with the erection of “Jerusaléns”, monumentalised ways of the cross, the aim of which was to recreate Jesus Christ’s journey between the Praetorium and Calvary. At the end of the 16th century, Archbishop Frei Agostinho de Jesus planted a specimen directly imported from Upper Germany in the fence of the Augustinian college in Pópulo, which may be the oldest monumentalised Way of the Cross erected in Portugal. Therefore, it can also be used to understand the emergence of other places of the Passion in Braga, of which the sanctuary of Bom Jesus do Monte is a fundamental paradigm. However, the construction of this imaginary is not only revealed in the material aspect, but has also been expressed in the intangible dimension, namely the solemnities of Holy Week.

 

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