Pedro Teixeira da Mota

Professor de Yoga e Meditação

Conferência

Místicas portuguesas do séc. XVIII e seus ensinamentos

Pedro Teixeira da Mota. Licenciado em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa. Estadias na Índia e professor de yoga e meditação durante alguns anos. Posteriormente na área do livro antigo em alfarrabistas e leiloeiras.

Publicou em 1988 e 1989, após consulta prolongada do espólio do Fernando Pessoa na Biblioteca Nacional, a Agenda do Centenário de Fernando Pessoa e o Livro da Sabedoria Portuguesa, e quatro livros de inéditos de Fernando Pessoa, comentados: Moral, Regras de Vida e Condições de Iniciação; A Grande Alma Portuguesa; A Rosea Cruz; Poesia Profética, Mágica e Espiritual.

Publicou em 1998 O Livro dos Descobrimentos do Oriente e do Ocidente, a propósito dos quinhentos anos do Descobrimento do caminho marítimo para a Índia.

Em 2006, dá à luz a tradução comentada do texto sânscrito Cântico da Consciência Suprema, Astavakra Gita.

Em 2008 faz a tradução (com Álvaro Pereira Mendes), e introduz, comenta e anota o Modo de Orar a Deus, de Erasmo de Roterdão, nas Publicações Maitreya.

Em 2008 colabora com doze entradas no Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, coordenado por Fernando Cabral Martins, da editorial Caminho.

Em maio de 2015 publica o livro de trinta e três ensaios intitulado Da Alma ao Espírito, nas Publicações Maitreya.

Em setembro de 2022 publica a sua tradução do alemão da obra de Bô Yin Râ, A Oração.

Colaborou em jornais e revistas, tais como Público, Raiz e Utopia, Arte e Opinião, Nova Renascença, Arte Ibérica, Agenda Cultural de Lisboa, Singularidades, Ar Livre, Nova Águia, Artes e Letras, Transdisciplinar, Pessoa Plural.

 

Resumo da Conferência

 

Nas raízes etimológicas, gregas, da nossa palavra mística, encontraremos os mistés, os iniciados ou iniciadas, que praticavam o silêncio não só receptivo preparatório, como até posterior,  às experiências indizíveis que obtinham no decurso dos Mistérios.

Tal implica que, para além do corpo físico, ou do que vemos e experienciamos com os cinco sentidos e a mente, existem outros níveis de ser e dimensões que alcançam ou chegam até às profundezas ou alturas do Divino, as quais exigem contudo, para se nos revelarem e tornarem compreensíveis, que adoptemos modos de vida e práticas psico-espirituais correctas que nos permitam merecer as graças de estados intensificados de consciência, de amor, de união.

O místico é pois quem experienciou o que poderemos designar por sagrado, em sentido lato ou, em sentidos mais precisos, o espírito, o divino, ou ainda quem tem apenas a tendência, aspiração e sensibilidade para tal.

No Ocidente Cristão Português, a tradição mística é muito antiga e ininterrupta, e vem desde os eremitas da serra de Ossa até às milhares de sorores e almas religiosas que se protegeram em conventos e aí puderam soltar a ave-balão do seu coração, sem os pesos dos envolvimentos e preocupações mundanas, rumo às alturas ora devocionais ora mesmo místicas e de êxtase de que tantos testemunhos nos ficaram: hagiográficos, literários, artísticos ou mesmo de intercessão.

Esta comunicação abrange o estudo das vidas e ensinamentos de algumas místicas portuguesas dos séculos XVII-XVIII, da época do Barroco, freiras de diversas ordens, que se destacaram  qualitativamente no seu magistério conventual, na ascese, nas práticas devocionais, no amor, nas graças, visões, uniões e êxtases, ou ainda na poesia, doutrina por vezes com forte influência na sociedade e baseia-se portanto no que elas realizaram. A fonte documental principal são cerca de dez  livros do séc. XVIII  publicados sobre elas, e mais um ou dois pequenos manuscritos de relações das suas vidas. Espera-se que se avalie melhor a qualidade do amor e de dádiva ao sagrado e ao Divino, e às Suas pessoas, bem como da operatividade das vias que tais místicas portugueses seguiram em vidas tão abnegadas, luminosas e exemplares.

 

Abstract

In the etymological Greek roots of our word mystic, we find the mystés, the initiates, who practised silence, not only receptively in preparation for, but even afterwards, the unspeakable experiences they gained during the Mysteries.

This implies that, beyond the physical body, or what we see and experience with the five senses and the mind, there are other levels of being and dimensions that reach the depths or heights of the Divine, which, however, in order to be revealed and made comprehensible, require us to adopt correct lifestyles and psycho-spiritual practices in order to merit the graces of intensified states of consciousness,  love, union.

A mystic is therefore someone who has experienced what we might call the sacred, in a broad sense, or, in a more precise sense, the Spirit, the Divine, or even someone who simply has the tendency, aspiration and sensitivity to do so.

In the western portuguese Christianity, the mystical tradition is very old and uninterrupted, and goes from the primitive hermits of the Serra de Ossa to  the thousands of sorores and religious souls who sheltered themselves in convents and were able to let go or release the bird-balloon of their hearts, without the burdens of worldly worries and concerns, towards the heights of devotion and even mysticism and ecstasy, of which we have so many testimonies, hagiographic, literary, artistic or even of intercession.

This communication covers the study of the lives and teachings of some Portuguese mystics from the 17th-18th centuries, from the Baroque era, nuns from different orders, who stood out qualitatively in their doutrinal teachings, asceticism, devotional practices, love, graces, visions, unions and ecstasies, or even poetry, sometimes with strong influence on society, and is therefore based on what they accomplished. The main documentary source is around ten books from the 18th century that were published about them, plus one or two small manuscripts of accounts of their lives. It is hoped that the public can better assess the quality of love and self-giving to the sacred and the Divine, as well as the operability of the paths that these Portuguese mystics followed in such selfless, luminous and exemplary lives.

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