Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica [Santa Sé], PUU
Conferência
“A espiritualidade e a mística do Venerável Frei Bernardo de Vasconcelos e do Servo de Deus Padre Abílio Gomes Correia da Arquidiocese de Braga (séc. XX)”
Nasceu em Joane, Concelho de Famalicão, em 17 de Abril de 1973. Exerce as funções de Chanceler do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica na Santa Sé (Roma). Foi ordenado presbítero para a Arquidiocese de Braga em 20 de Julho de 1997. Doutorou-se em Direito Canónico na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma, com a tese “O direito a viver do Evangelho. Estudo jurídico e teológico sobre a sustentação do clero”.
Especializou-se em jurisprudência matrimonial em 2005 e me jurisprudência penal em 2022 na Faculdade de Direito Canónico da Pontifícia Universidade Gregoriana. É professor convidado da Pontifícia Universidade Urbaniana em Roma, Comissário do Dicastério para a Doutrina da Fé para os casos de dissolução do matrimonio “in favorem fidei”; Consultor da Comissão Histórica do Dicastério das Causas dos Santos.
É postulador da Causa de beatificação e canonização do Venerável Frei Bernardo de Vasconcelos e do Servo de Deus Padre Abílio Gomes Correia, da Arquidiocese de Braga.
No campo jurídico publicou vários artigos em revistas da especialidade; no âmbito da poesia e literatura publicou “O Vento da Noite”, “O Bairro Judaico” e “O Livro da Consolação” nas edições Assírio e Alvim, a biografia “O Frei Bernardo contado aos mais jovens” e recentemente “O Rosto Inacabado. Aproximações aos Rosto de Cristo e do Homem”.
Desde 2011 é capelão de Sua Santidade.
Resumo da Conferência
O objetivo da conferência é traçar o itinerário biográfico e espiritual de dois candidatos aos altares da Igreja que viveram na primeira metade do século XX na Arquidiocese de Braga.
Frei Bernardo de Vasconcelos nasceu em Celorico de Basto a 7 de Julho de 1902 e morreu na Foz do Douro em 4 de Julho de 1932. Foi poeta e místico, ferido e torturado pela dor e pela doença (Mal de Pött). A renúncia seria o seu calvário, as lágrimas da dor o seu rosário, e a vida nova no céu um cântico de amor. A sua breve vida foi marcada pelas saudades do Céu, pela sede do infinito, sentindo-se no mundo insatisfeito, uma “Hóstia em sangue”. Deixando o mundo universitário e a cultura (CADC) fez-se monge, “uma ascensão sem fim”, sem saber ao certo por onde ia, nem se era ele que para Deus subia ou se era Deus que o levava a si. A sua vida transformara-se num “Cântico de Amor”, o livro de poemas místicos que não chegou a receber em mãos porque morre na véspera.
O Padre Abílio Gomes Correia (Padim da Graça, 9 de Fevereiro de 1882 – São Mamede de Este, 29 de Junho de 1967) foi ordenado sacerdote em 1904 e exerceu o ministério de Pároco na paróquia de São Mamede d’Este, na Arquidiocese de Braga, por 60 anos. Sozinho, com sua mãe, naquele inóspito posto, apaixonou-se pelo pobre sacrário e pelo seu majestoso Senhor. Muitas eram as horas do dia que ali passava em oração e em confidências, mas cedo sentiu que o dia não era suficiente para dar conta de tanto ardor e fogo em seu coração, roubando horas à noite para estar na presença do seu divino hóspede e amigo.
Paradoxal como a semente, desta ignorada e ignorante terra começa a germinar uma nova luz que alastrará por Portugal inteiro. Daquele pobre Sacrário nasceu a grande devoção ao Santíssimo Sacramento em Portugal Continental, ilhas e Colónias.
Em 1922 participou com o Arcebispo de Braga, D. Manuel Vieira de Matos, no Congresso Eucarístico Internacional. Regressando, já não se sentia apenas o pároco de São Mamede de Este, mas o missionário da Eucaristia. Organiza o Congresso Eucarístico Diocesano em 1923. Animado pelo saldo positivo, até nas contas, o pobre cura da aldeia, a quem chamariam mais tarde o Cura d’Ars português, convocou também o Primeiro Congresso Nacional Eucarístico, em Braga, em 1924.
Nos últimos dois anos cegou quase por completo. Recusou os tratamentos, ainda pouco conhecidos naquela época, e renunciou à operação exclamando: “já vivi demasiado tempo para fora; agora quero olhar para dentro, para o Hóspede Divino da minha alma”.
Em 1967 foi vítima de uma trombose acabando por falecer no dia da festa de São pedro e Paulo. O seu divino companheiro de tantas horas noturnas veio buscá-lo e num abraço eterno, conduziu-o aos verdes prados da Jerusalém celeste.
Abstract
The objective of the conference is to trace the biographical and spiritual itinerary of two candidates for the altars of the Church who lived in the first half of the 20th century in the Archdiocese of Braga, in Portugal.
Frei Bernardo de Vasconcelos was born in Celorico de Basto on July 7, 1902 and died in Foz do Douro on July 4, 1932. He was a poet and mystic, injured and tortured by pain and illness (Pött’s disease). Renunciation would be his ordeal, the tears of pain his rosary, and new life in heaven a song of love. His brief life was marked by a longing for Heaven, a thirst for the infinite, feeling unsatisfied in the world, a “Host in blood”. Leaving the university world and culture (CADC), he became a monk, “an endless ascension”, without knowing exactly where he was going, nor whether it was he who was ascending to God or whether it was God who was taking him to himself. His life had become a “Song of Love”, the book of mystical poems that he never received in his hands because he died the day before.
Father Abílio Gomes Correia (Padim da Graça, February 9, 1882 – São Mamede de Este, June 29, 1967) was ordained a priest in 1904 and exercised the ministry of Parish Priest in the parish of São Mamede d’Este, in the Archdiocese of Braga, for 60 years. Alone, with his mother, in that inhospitable post, he fell in love with the poor tabernacle and its majestic Lord. There were many hours of the day that he spent there in prayer and in confidence, but he soon felt that the day was not enough to handle so much ardor and fire in his heart, stealing hours at night to be in the presence of his divine guest and friend.
Paradoxical as the seed, from this ignored and ignorant land a new light begins to germinate that will spread throughout Portugal. From that poor Tabernacle was born the great devotion to the Blessed Sacrament in mainland Portugal, islands and colonies.
In 1922 he participated with the Archbishop of Braga, D. Manuel Vieira de Matos, in the International Eucharistic Congress. Returning, he no longer felt like just the parish priest of São Mamede de Este, but the missionary of the Eucharist. He organized the Diocesan Eucharistic Congress in 1923. Encouraged by the positive balance, even in the accounts, the poor village curate, who would later be called the Portuguese Curé d’Ars, also called for the First National Eucharistic Congress, in Braga, in 1924.
In the last two years he has gone almost completely blind. He refused the treatments, which were still little known at the time, and renounced the operation exclaiming: “I’ve lived abroad for too long; now I want to look inside, at the Divine Guest of my soul.”
In 1967 he was the victim of a thrombosis and ended up dying on the feast day of Saint Peter and Paul. His divine companion of so many nightly hours came to pick him up and in an eternal embrace, led him to the green meadows of heavenly Jerusalem.