Maria Leonor Lamas de Oliveira Xavier

FLUL/Dep. Filosofia; SIEPM

Conferência

Aprender a pensar em Deus com Santo Anselmo: um caminho espiritual

Maria Leonor Lamas de Oliveira Xavier é professora associada com agregação do Departamento de Filosofia e membro do Centro de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL). É membro de: So-ciété Internationale pour l’Étude de la Philosophie Médiévale (SIEPM); Sociedad de Filosofía Medieval (SO-FIME); Red Latinoamericana de Filosofía Medieval (RLFM); International Association for Anselm Studies (IAAS); e Society for the European History of Ideas (SEHI). É também membro de: Comissão Científica de En-fermagem da Universidade de Lisboa; Comissão Externa de Acompanhamento do Centro de Investigação, Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa (CIDNUR); e Conselho de Ética da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa (ESEL).

Autora de: Filosofia com Coração (2017); Three Questions on God (2016); A Questão da Existência de Deus. Uma Disputa Medieval (2013); O Teísmo Medieval. Santo Anselmo e João Duns Escoto (2009); Questões de Filosofia na Idade Média (2007); Razão e Ser. Três Questões de Ontologia em Santo Anselmo (1999); e de-zenas de artigos em obras colectivas e revistas de filosofia.

Coordenadora de: Francisco da Gama Caeiro. A Presença 20 anos depois (2014); Philosophica 34. Anselmo sola ratione 900 anos depois (2009); A Questão de Deus. Ensaios Filosóficos (2010); A Questão de Deus na História da Filosofia I-II (2008).

Ciência ID: 6C1F-78B6-0B20

https://www.cienciavitae.pt/pt/6C1F-78B6-0B20

Resumo da Conferência

Não pretendemos aprender a crer em Deus com Santo Anselmo, pois a fé tem outras fontes, que a razão não domina, nem mesmo a potente razão anselmiana. Mas a fé também se alimenta de pensamento, ou se confronta com ele. Por isso, nem a fé é indiferente ao pensamento, nem a carência de fé. Crentes e descrentes têm em comum o pensamento. E para pensar em Deus, não encontramos melhor guia do que Santo Anselmo. Temos, no entanto, de desmontar um preconceito corrente a seu propósito: o de que o seu argumento único do Proslogion nos ensina a pensar Deus como limite do nosso pensamento. Em vez disso, o argumento anselmiano ensina-nos a pensar Deus no limite do nosso pensamento. Além disso, o mesmo argumento, ainda que possa ser lido como uma peça autónoma de pensamento, e assim tem sido tantas vezes abordado, é parte de um caminho espiritual que Anselmo descreve verbalmente ao longo das suas primeiras obras: Monologion, Proslogion, e a sua réplica às objecções de Gaunilo. Pretendemos nós aqui esquematizar esse caminho, percorrendo-o em quatro graus: 1) o bem supremo; 2) o absoluto; 3) o todo; 4) além do pensamento. Não vemos nem tocamos em Deus com o pensamento, como Anselmo bem reconhece. Mas, apesar disso, Anselmo termina o Proslogion exortando, não ao silêncio, mas à meditação racional e à fala. Porquê? Porventura porque a fé também se alimenta de pensamento, e porque, sem pensamento, mais difícil é pressentir e desejar o que está para além dos seus limites.

A partir da correspondência de Bartolomeu dos Mártires enviada por este a Carlos Borromeu, vamos descobrir os intuitos reformadores destes dois grandes Arcebispos na esteira do Concílio de Trento. Uma visão e um fervor mútuos anima estes dois apóstolos na Europa do século XVI. Um bem perto dos centros do poder, o outro na periferia da Europa. Porém a influência de Bartolomeu dos Mártires não cessou de se alargar.

 

 

Abstract

We do not intend to learn to believe in God with Saint Anselm, because faith has other sources, which rea-son does not dominate, not even the powerful Anselmian reason. But faith also feeds on thought, or con-fronts it. Therefore, neither faith is indifferent to thought, nor the lack of faith. Believers and unbelievers have thought in common. And for thinking about God, we can’t find a better guide than St. Anselm. We have, however, to dismantle a current prejudice about him: that his unique argument from the Proslogion teaches us to think of God as the limit of our thinking. Instead, the Anselmian argument teaches us to think of God at the limit of our thinking. Furthermore, the same argument, even though it can be read as an au-tonomous piece of thought, and so it has been taken so many times, is part of a spiritual path that Anselm verbally describes throughout his early works: Monologion, Proslogion, and the reply to Gaunilo’s objec-tions. We intend here to outline this path, traversing it in four degrees: 1) the supreme good; 2) the abso-lute; 3) the whole; 4) beyond thought. We do not see or touch God with our thought, as Anselm well recog-nizes. But notwithstanding this, Anselm ends the Proslogion by exhorting, not to silence, but to rational meditation and speech. Why? Perhaps because faith also feeds on thought, and because, without thought, it is more difficult to foresee and desire what is beyond its limits.

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