Maria Guilhermina Castro

Digital Media and Interaction Research Center of Aveiro University

Conferência

Sexualidade e Mística: Contributos da Psicologia

Maria Guilhermina Castro licenciou-se e doutorou-se em Psicologia pela Universidade do Porto, com dissertação sobre relações amorosas. É investigadora na Universidade de Aveiro desde 2022 e foi Professora Auxiliar na Universidade Católica Portuguesa (1998-2021). Enquanto docente externa, tem lecionado em instituições como a St Joseph University (Macau), a Universidad de San Pablo – CEU (Madrid), entre outras. No âmbito da investigação que vem desenvolvendo desde 1996 sobre relações amorosas, narrativas, personagens, criatividade, pensamento crítico, liderança, orientação vocacional e psicologia da arte, Maria Guilhermina apresentou o seu trabalho em mais de 60 ocasiões (artigos científicos, capítulos de livros, comunicações em congressos, etc.). Ao longo da sua carreira trabalhou em 10 projetos de investigação científica, vários dos quais financiados em consórcios internacionais. Pelo seu interesse em dinamizar a investigação a nível internacional, co-fundou o congresso Narrative, Media and Cognition e foi Vice-presidente da Associação de Investigadores da Imagem em Movimento. A Ordem dos Psicólogos Portugueses conferiu-lhe Especialidades em Psicologia Clínica e da Saúde e em Psicologia da Educação. Durante 7 anos foi psicóloga em contexto escolar e clínico. Possui ainda formação avançada em Direção de Psicodrama, formação em Representação (ESMAE) e em Música (Conservatório Regional de Caldas da Saúde).

Resumo da Conferência

A relação entre sexualidade e mística tem sido estudada de forma incipiente pela Psicologia. Tanto a espiritualidade é residual nos estudos científicos sobre a sexualidade, como a Psicologia Transpessoal – que abarca experiências de transcendência e espiritualidade humana – não tem eleito a sexualidade como objeto. A partir do final do século XX a investigação dá sinais de mudança, da qual é testemunho, por exemplo, a primeira publicação de um tópico especial inteiramente dedicado ao tema “Transpersonal Sexuality” em 2019 pelo International Journal of Transpersonal Studies. Esta comunicação irá apresentar uma revisão atualizada da literatura científica psicológica acerca da relação entre a sexualidade (em sentido lato) e a mística.

Serão descritos estudos que inquirem experiências simultaneamente sexuais e místicas, por exemplo, sensações de êxtase, transcendência, vivências sagradas, união com o todo, presença do divino, entre outras, durante o ato sexual (e.g., McKnee). Numa amostra de larga escala constituída por 82% de mulheres, 47% disse ter experienciado Deus durante o êxtase sexual e 45% referiu ter vivido energia sexual durante um êxtase espiritual (Odgen, 2001, 2006). Outras publicações reportam associações estatísticas entre facetas daquelas duas esferas (e.g., desejo e absorção) quando observadas de modo independente (e.g., Costa, 2016). Há investigações ainda que salientam a presença (ou ausência) de relações com outras dimensões como experiências de pico, estados de flow, estados não ordinários de consciência e características de personalidade como as Big 5.

Carlisle (2018) encontrou que a vivência de sacralidade na união predizia 12% da satisfação sexual e propôs intencionalizar a espiritualidade no desenvolvimento da sexualidade. Este potencial encontra-se abafado pelo sigilo que domina o tema, como reporta Wade (2004): a maioria dos seus participantes viveu a experiência na solidão, sem nunca haver partilhado a experiência com ninguém (incluindo o parceiro). É assim que se considera que comunicar sobre este tema não promove apenas a investigação, mas, em última análise, também o desenvolvimento humano em geral, do qual a sexualidade e a mística são fundamentais.

 

 

.Abstract

 

The relationship between sexuality and mysticism has been minimally explored in the field of Psychology. Spirituality has been given limited attention in scientific studies on sexuality, and Transpersonal Psychology – which encompasses experiences of transcendence and human spirituality – has only sporadically studied sexuality. However, since the late 20th century, there have been signs of a growing interest. For instance, in 2019 the International Journal of Transpersonal Studies was the first publication with a special topic entirely dedicated to the theme “Transpersonal Sexuality”. This communication aims to provide an updated review of the psychological scientific literature regarding the connection between sexuality (in the broadest sense) and mysticism.

The review will encompass studies that simultaneously investigate sexual and mystical experiences, such as sensations of ecstasy, transcendence, sacred experiences, union with the whole, presence of the divine, among others, during the sexual contacts (e.g., McKnee). In a large sample, with 82% of participants being women, 47% reported experiencing God during sexual ecstasy, while 45% reported experiencing sexual energy during spiritual ecstasy (Odgen, 2001, 2006). Other publications have explored statistical associations between facets of those two spheres, such as desire and absorption, when observed independently (e.g., Costa, 2016). There are also investigations that highlight the presence (or absence) of connections with other dimensions such as peak experiences, flow states, non-ordinary states of consciousness and personality characteristics such as the Big 5.

Carlisle (2018) discovered that the perception of sacredness within the union between partners predicted 12% of overall sexual satisfaction and proposed incorporating spirituality intentionally into the development of one’s sexuality. However, this potential is hindered by the prevailing secrecy surrounding the topic, as reported by Wade (2004): the majority of the inquired lived the experience in solitude, not sharing the experiences with anyone (including their partners). Consequently, it appears that communicating on this subject not only advances research, but also contributes to human development, of which sexuality and mysticism play fundamental roles.

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