UCP, Braga
Conferência
Para uma pastoral da arte
Carlos Bizarro Morais é Licenciado, Mestre e Doutor em Filosofia (Estética) pela Universidade Católica Portuguesa (UCP). É Docente da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da mesma Universidade, onde tem coordenado Cursos de Licenciatura e de Mestrado, bem como o Curso de Doutoramento em Filosofia. É membro integrado do Centro de Estudos Filosóficos e Humanísticos (CEFH – UCP, Braga). Os seus interesses de investigação centram-se nas áreas da Estética e Teoria das Artes, com ênfase na temática da Experiência Estética e Artística, nas suas articulações com as outras dimensões da experiência humana, nomeadamente, com os valores sociais e políticos; religiosos, metafísicos e espirituais; educativos, pedagógicos e comunicacionais; éticos e morais; técnicos e científicos; económicos e mais globalmente, culturais. Investiga, também, nas áreas da Fenomenologia e da História da Filosofia (ocidental, oriental e africana). Tem lecionado diversas unidades curriculares ligadas a estas áreas e publicado artigos em revistas científicas e capítulos de obras coletivas.
Resumo da Conferência
Esta comunicação tem como finalidade evidenciar a importância da arte enquanto campo fulcral da atividade pastoral da Igreja. Mais precisamente, interessa-nos a arte contemporânea, na medida em que esta coloca permanentemente novos e complexos desafios à fé cristã.
É certo que dentre a multiplicidade de dimensões da cultura, a expressão artística aparece como um âmbito particularmente importante para a Igreja. É através das artes que se criam, desenvolvem e comunicam os gostos, os valores que catalisam e transformam as mentalidades, as tendências e as aspirações de uma época, de uma sociedade, de um grupo ou comunidade. As manifestações artísticas estão presentes nos dinamismos da vida humana, são transversais a todos os indivíduos e as todas as coisas. Daí que a Igreja se tenha vindo a interessar e a integrar na sua atividade pastoral o diálogo com as obras de arte, as correntes estéticas, os próprios artistas, delineando as melhores vias de aproximação, as prioridades, os critérios, as estratégias, etc.
Nesta linha, a arte constitui-se, no território mais amplo da Pastoral da Cultura, como um lugar, uma instância mediadora propícia para observar e aprofundar o diálogo entre a evangelização da cultura e a inculturação da fé.
E contudo, torna-se urgente perguntar se estas premissas possuem alguma concretização real no campo das interações destas duas “instituições” ou “mundos”: a Arte e a Igreja. Ou seja, é preciso perguntar e tentar responder se o mundo da arte (contemporânea), que tanto influencia e molda a cultura a partir de ambientes marcadamente laicos, possibilita ou não uma abertura à fé. A questão é tanto mais complexa, quando tudo indica que muitos dos artistas contemporâneos mais marcantes estão muito longe da vivência religiosa, da fé, dos valores da espiritualidade judaico-cristã, ou de qualquer ligação à Igreja Católica. Então, que diálogo?… Mas também não podemos fazer juízos apressados, nem preconceituosos. Antes, é preciso averiguar, ir ao encontro dessa arte e dos artistas e perscrutá-los… analisar até que ponto há janelas, portas, acessos a algo que configure possibilidades de vivências, mensagens, intencionalidades, capazes de abrir insuspeitadas vias de diálogo.
É este exercício que pretendemos ensaiar, inquietos com o grito lançado por D. Tolentino de Mendonça, quando em 2013 apontava para a necessidade de a Igreja «acordar» para a Pastoral da Cultura.
Abstract
The purpose of this communication is to point out the importance of art as a central field inside the Church’s pastoral activity. More precisely, we will focus on contemporary art, as it permanently poses new and complex challenges to the Christian faith.
It is true that among the many dimensions of culture, the artistic expression assumes itself as a particularly relevant area for the Church. Different kinds of art enable the creation, development and communication of choices/tastes as well as values that catalyze and transform mentalities, trends and aspirations of a certain era, society, group or community. Artistic manifestations are present in the dynamics of human life, they are transversal to all individuals and all things. Hence, the Church has become aware and struggles to integrate, into its pastoral activity, the dialogue with works of art, aesthetical currents and artists, outlining the best ways of approach, priorities, criteria, strategies, etc.
Following this train of thought, art constitutes itself, in the broader territory of the Pastoral Care of Culture, as a place, a mediating forum suitable for observing and deepening the dialogue between the evangelization of culture and the inculturation of faith.
However, it becomes urgent to ask whether these premises have any real concreteness in the field of the interactions of these two “institutions” or “worlds”: Art and the Church. In other words, it is necessary to ask and try to answer whether or not the world of (contemporary) art, which so influences and shapes culture from markedly laic environments, makes it possible to open up to faith. The question is all the more complex when everything indicates that many of the most outstanding contemporary artists are very far from religious experience, faith, the values of Judeo-Christian spirituality, or any connection to the Catholic Church. So, what is the possible dialogue?… But we cannot make hasty or prejudiced judgments either. Rather, we need to find out, go and meet this art and the artists and scrutinize them… analyze the extent to which there are windows, doors, accesses to something that sets up possibilities of experiences, messages, intentions, capable of opening up unsuspected avenues of dialogue.
It is this exercise that we intend to rehearse, restless with the shoutout pointed out by Cardinal Tolentino de Mendonça, when in 2013 he underlined the need for the Church to “wake up” to the Pastoral Care of Culture.